Sustentável Leveza – Casa da Cultura de Coimbra

Sustentável Leveza – Casa da Cultura de Coimbra

Março / Abril 2010

Sustentável Leveza

Este conjunto de quatro obras apresentado na Casa Municipal da Cultura de Coimbra foi sendo constituido a partir de uma peça central e inicial, intitulada “Um sopro”, de Rui Chafes. Depois, as outras peças, sem qualquer ligação entre si, relacionam-se com ela, pelo menos no universo do coleccionador que as juntou. Essa relação não é só do ponto de vista do elo formal que é a esfera ou a sua representação, mas do ponto de vista da simbologia da evidenciação do peso, da leveza, do esforço, da transcendência libertadora ou da paradoxal suspensão. Mas a leitura e as sensações despertadas competem sobretudo ao espectador, que lê a obra de arte segundo as suas próprias emoções.

Assim, a própria leveza de “Um sopro”, é uma extraordinariamente bem conseguida síntese da ilusão que a escultura sempre buscou: a de suprimir o peso inerente ao material e ser quase animada pelo espiritual, viver num estado (ilusório) de suspensão viva, de uma sustentável leveza.

Acerca da criação de ilusão, o mesmo se pode passar com a obra de Luis Noronha da Costa, na qual o espaço sugerido, que se abre para além e que não conseguimos percepcionar totalmente, é marcado por uma elevação e um distanciamento de um elemento que quase parece continuar a escultura anteriormente referida.

Relativamente a “Retain- da série Under Current”, de Pedro Pascoinho, a lógica parece ser um estado latente de ascenção, retida contudo por uma forma/corpo que a condiciona. Esta prisão parece ter uma ligação à terra através das palhas, simbologia que deixa imaginar o propósito do objecto esférico para se tornar ele, para se libertar do seu corpo e ascender, como seria da sua natureza material de balão.

Algo idêntico pode sugerir a pintura de Carlos Seabra, onde o esforço para a leveza e a relação humana com ele, a sustentação que não esconde o processo de empenhamento que é a metáfora da vida humana: crescer em esforço, cair e recomeçar, sempre a conseguir e sempre a sustentar a leveza com a dificuldade.

Como se o Ser latente na escultura de Pascoinho ou o Espírito em Chafes e  Noronha da Costa, ganhassem forma humana, que simultaneamente os fortalece e limita.

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