Tudo menos outra coisa – João Jacinto e Mariana Gomes
Março / Maio 2015
Esta mostra, de dois artistas e funcionando como duas exposições individuais (porque cada uma ocupa espaço distinto na galeria) não deixa, contudo, de ser uma exposição colectiva pois desde logo há coincidência nos meios empregues nas obras respectivas e sintonia no olhar e vida dos artistas, que apresentam mais de 40 trabalhos.
João Jacinto, pintor, a propósito dos trabalhos apresentados, uma continuação na sua já longa carreira, diz-nos: “A acreditar que há sentido no mundo, e nas coisas de que é feito, apetece-me dizer, como Frank Auerbach:
– Se já faço isto há tanto tempo, é porque não deve ser vão. E isto ser razão suficiente. Isto é tudo como essas pequenas ficções do Beckett, em que o personagem gasta o seu tempo a mudar pequenas e vulgares pedras de um bolso para outro. Resta dizer que uma certeza há: – Faço mais pintura que pinturas.” Ou seja, também para ele, a sua vida de pintor é um exercício continuo e incessante, em que o sentido se inicia na própria prática.
Mariana Gomes diz-nos que “Todas as coisas do mundo vão de encontro ao olhar, este não se fica. Há coisas que saem dos dedos a todos os instantes. De todas as cores, algumas. De todas as mãos, a esquerda.
O elogio do erro é sucessivo, como um truque que corre mal. Mostra a estrutura do embuste e o seu falhanço é o que faz a própria coisa, como uma pintura que denuncia os seus próprios defeitos, desmonta o modo de pintar, o que está pintado, como se se virasse contra si rindo descontroladamente. Sem mais demoras: o trabalho é compulsão, e os dias, o júbilo e a extrema tristeza de existirem. Pintar para quê? Não sei, mas faz sentido.” Parece alertar-nos para o facto do sentido último da obra acabada ser aquele, podendo ter sido outro (talvez alcançado numa próxima pintura), sendo certo que também para ela o sentido se inicia no próprio acto de fazer e aceitar que a obra/pintura se faça.
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