Sentido Obrigatório – Carlos No

Sentido Obrigatório – Carlos No

Outubro / Novembro 2015

A Galeria SETE completa a sua primeira década de existência e resistência, em Coimbra. Tem sido uma infância quase toda passada em confronto diário com uma profunda crise económica e social, o que reforça os motivos de
espanto e alegria por estarmos vivos e com projectos para continuar; conquistamos ainda (e já há alguns anos) o epíteto de galeria de arte privada – com actividade sistemática e exclusiva em arte contemporânea – que mais
tempo existiu em Coimbra, o que só por si, diz das dificuldades do torrão onde, há 10 anos, lançámos raízes.
O título de exposição que agora apresentamos, Sentido Obrigatório, do artista Carlos No (Lisboa, 1967), acumula o papel de título de exposição (a nossa quadragésima sétima) com o de metáfora de futuro, a propósito da nossa
determinação de continuar a ser galeria de Arte Contemporânea em Coimbra.

SENTIDO OBRIGATÓRIO

Carlos No transporta para o campo artístico/poético aquilo que não parece ter solução no campo social. Repare-se como as obras apresentadas, produzidas desde 2009, estão aguçadas na sua actualidade, essencialmente porque o tema que iluminam é um problema que não tem tido solução na vida real, um caminha de “sentido obrigatório” para o abismo.
Já em 28 Junho de 2011, o sociólogo e professor Boaventura de Sousa Santos, escreveu “O Domador de Escalas”, um texto a propósito da obra de Carlos No, onde se podem ler os trechos que se seguem e que permanecem bem sugestivos de como a poética do artista continua a ser um acto de resistência, a encontrar-se com a preocupação do mundo em que coloca os seus objectos/esculturas.
Assim: “Em Carlos No, a unicidade da escala é um artifício que simultaneamente reforça e oculta o poder de quem define a escala.
(….) É urgente denunciar esse poder. Mas como, se os nossos olhos foram cientificamente treinados para não o ver? (…)
A arte de Carlos No liberta a diversidade das escalas e cultiva-a para mostrar que as relações de poder desfiguram tanto os oprimidos como os opressores. A minúscula humanidade dos oprimidos e excluídos confronta-se com monstruosos objectos de repressão e de regulação. No mundo contemporâneo, grande parte da humanidade vive na condição de sub-humanidade. Não desiste de lutar e por isso todas as figuras de Carlos No caminham, caminham incessantemente. Mas esbarram sempre (…) nas engrenagens abstractas da burocracia e da tecnologia do poder. (…) Em Carlos No a Europa é um centro inóspito, hostil, agressivo, excludente e, sobretudo, cínico. Exclui com gestos de inclusão; nega direitos em nome do direito; defende a democracia por métodos anti-democráticos; cria regras universais para retirar delas benefícios exclusivos; (…) Tudo com respeito pelos ‘direitos humanos universais’, já que estes são um ‘património incontornável da identidade europeia’. Tudo feito anonimamente para que o poder possa estar em toda a parte sem estar em parte nenhuma.
A Europa de Carlos No (…) é uma Europa metafórica que está em todo o mundo onde a desigualdade, a injustiça social e a opressão se disfarçam de igualdade, liberdade e fraternidade.”

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