O carro à frente dos bois – Vítor Pomar
Fevereiro / Março 2016
O CARRO À FRENTE DOS BOIS
Estamos perante uma realidade de que ignoramos a substancia.
Protagonizamos uma personagem que se desconhece.
No entanto, devemos a cada passo tomar decisões que nos definem.
O labirinto de incompetência que sem cessar exercemos, pode, a cada momento, abandonar-nos para que fiquemos confrontados com a única certeza.
Reconhecemos nesse instante a plenitude imperdível.
A bidimensionalidade que é apanágio da pintura projecta-nos paradoxalmente para além da aparente dualidade temporal.
Para que tal possa ser vivido devemos prescindir tanto de certezas como de hábitos.
É retrospectivamente que vejo confirmados os princípios orientadores duma percepção válida e abrangente.
De outro modo seria como “pôr o carro à frente dos bois”…
RECEITA
(…) Andar à volta da [tela] pousada no chão: é branca e ignora alto e baixo.
Ao descobrir um ponto fraco (ou acolhedor?): usar um pincel carregado de tinta (…).
O ataque (ou carícia) ficará marcado, visível.
Baralhar as pistas.
Trocar as voltas ao acaso.
Destruir tudo.
Escutar a luz.
Quando tudo está partido, tudo se segura: insuportável gratificação.
Voltar as costas.
Opressivo, o reverso da sedução?
VP 1977
Pág. 108/9 Vol. II “O Meu Campo de Batalha”, Catálogo Museu de Serralves, 2003
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