“Correspondência: Arquivo de Memórias – Alexandra de Pinho

“Correspondência: Arquivo de Memórias – Alexandra de Pinho

Convite: correspondencia: arquivo de memórias - alexandra de pinho

A Galeria Sete tem o prazer de o/a convidar para a exposição “Correspondência: Arquivo de Memórias” de Alexandra de Pinho, que iniciou no dia 15 de Setembro.
A exposição estará patente até ao dia 14 de Outubro, no horário normal da galeria.

Alexandra de Pinho
Correspondência: Arquivo de Memórias

Apesar da crescente presença das novas tecnologias nas nossas vidas, a correspondência é ainda um frequente objecto de estudo no âmbito das ciências sociais. São vários os exemplos de compilações publicadas, anotadas ou não, e inúmeras as inserções destes documentos nas edições críticas de obras literárias. As cartas continuam a ser revisitadas exaustivamente. Contribuem muito para as reformulações sociais, históricas e literárias.Representam um leque infindável de emoções, relatam segredos, testemunham diálogos, encontros, atestam inúmeras relações.

O conjunto de obras em exibição revela a correspondência na sua pluralidade. Sem divulgar o respectivo conteúdo, destaca o papel do sobrescrito numa multiplicidade de remetentes, destinatários, lugares e propósitos distintos. Pretende-se, assim, que a ausência da mensagem suscite um olhar mais atento para os envelopes, incitando a esboçar novos sentidos à luz das memórias pessoais, de possíveis equívocos e da permeabilidade expressiva da caligrafia, selos e carimbos.

Alexandra de Pinho

Cartas, esses tesouros que guardam memórias

A caligrafia mais torta ou mais redondinha, mais aprumada ou mais inclinada. Palavras escritas a caneta preta ou azul, a lápis, à máquina. Pouco importa. O importante é o que se escreve. Selos pintados com figuras, paisagens, bichos, ou personagens importantes. Selos carregados de simbolismo. Símbolos de um país. Pedacinhos de orgulho, espelhos de uma nação. Ou veículos de subliminar propaganda política. Carimbos esborratados, incompletos, ou cravados com cuidado, certinhos e direitinhos. Carimbos de várias cores e feitios. Indicações estampadas em quadrados ou retângulos de papel. Em cartas com destinos traçados. Remetentes, destinatários, moradas. Pessoas. Tantas pessoas. Gente que escreve. Gente que recebe. Gente que responde. O cheiro da escrita, o cheiro de quem chega através de palavras escritas. O cheiro que abafa ausências. Envelopes que chegam à mão, fechados para serem rasgados com mais ou menos cuidado. Com maior ou menor intensidade. Envelopes que viajam, que voam, que atravessam oceanos e países. A proximidade que se sente nessas cartas que são objetos de lembranças, guardiãs de memórias, genuínos tesouros. De vidas. De tantas vidas. Saudades. Emoções. Desabafos. Amores. Desamores. Esperança. Família. Amigos. Confissões. Ordens.

Como comunicamos hoje? Estamos mais perto ou mais distantes uns dos outros? As novas tecnologias ajudam ou atrapalham? Como guardamos as nossas memórias? Como lembramos o passado? Como recordamos os outros? Será possível congelar o tempo num pedaço de papel? Qual o impacto dos modernos instrumentos de escrita? Alexandra de Pinho, artista plástica, segura-nos pela mão e conduz-nos numa viagem pelo tempo, pela escrita, pelo passado que se torna tão presente. Como se atravessássemos um poema que nos surpreende por assistirmos a tantas vidas em cartas que, não sendo nossas, nos contam uma parte importante da nossa própria história. Como um delicioso regresso às origens. Com linhas e agulhas, Alexandra de Pinho cose nomes, endereços, letras, palavras, carimbos, selos. Torna-os próximos de nós. Usa aguarelas e colagens. Decalca envelopes que lhe depositaram nas mãos. Com respeito e delicadeza. As cartas continuam misteriosas, como devem ser, sem revelar o que têm dentro.(…) E a imaginação pode funcionar a qualquer momento, sempre que quiser, para inventar o que quer ler dentro desses envelopes de vários tamanhos e proveniências. Envelopes carregados de vida. De tantas vidas.

A artista plástica resgata essa forma de escrita, recuperando com a sua arte uma arte que foi perdendo fôlego ao longo dos tempos. As cartas são autênticas, circularam, marcaram vidas, carregadas de histórias. (…) Alexandra de Pinho mostra-nos cartas por fora, chamando-nos para um mundo, que está tão perto e tão longe, lembrando-nos que esses instrumentos de escrita são também representações das nossas relações sociais. Os conteúdos permanecem secretos. Os referentes são autênticos. As cartas existiram. O interesse não é meramente plástico. Nas suas mãos, estão histórias de vidas. E Alexandra de Pinho torna-nos testemunhas de uma escrita que apesar de não ser tão antiga, parece tão arredada de um quotidiano moderno, apressado, sem tempo para mastigar palavras, sem paciência para juntar letras pelo próprio punho. (…)

Sara Dias Oliveira
Jornalista

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