“Caminho” – Daniela Nunes
Caminho
“Espaço que se percorre.
Direcção.
Meio, via.
Destino.
Rumo.
É a primeira exposição que faço, cujo texto que a acompanha é meu. É estranho de fazer mas estranhamente libertador.
Pensei numa forma de dar sentido a um ‘Todo’ que ao ser “faseado”, seguiria vários rumos. Várias Histórias, vários sorrisos, vários caminhos que quem sabe um dia não poderão voltar a encontrar-se.
Este trabalho ‘artístico’ e por vezes incessante que fazemos, vive na margem do que já foi feito e do que é exagerado, chocante, do que envolve uma grande produção e muitos meios. Senti-me a trabalhar por algum tempo ligeiramente “perdida”, entre pensar que devia investir mais, ou o “não vale a pena”. Parei, e constatei o quão preconceituosa estava também a ser. Estava a juntar-me a uma maré e quase a acreditar que era do dinheiro que investia o maior papel como mediador do que eu consigo fazer. Não pode ser.
O maior desafio para mim deveria ser, fazer o melhor que consigo com os meios que tenho.
Não sou mais quem já fui, não sou o que pensei que seria, nem serei assim para sempre. Tudo em nosso redor nos obriga a questionar os passos que damos. É assim com toda a gente em alguma fase. E em algum momento fomos e somos todos iguais.
O consenso de um pensamento comum do qual não queremos fazer parte torna-se apenas um contra-senso que o próprio tempo nos fez acreditar como sendo uma verdade, e que não o era, que não o é. Ninguém nada contra a maré. A “Marévida” tem sempre dois sentidos, tem sempre duas vistas e nunca estamos sozinhos ao caminhar.
Todo o meu trabalho anda em torno de “Duas Vistas”, este ‘conceito’ acaba por ser um ‘pré-conceito’ associado à composição de todas as imagens.
As “Duas Vistas” focam-se em espaços exteriores mantendo implícita a noção e presença do Indivíduo, onde este é colocado num local e as possibilidades da sua percepção são compactadas numa única imagem.
São desenhos de vistas ou pontos de vista que representam um local; no entanto, são imagens compostas que podem não ser realmente representativas de espaços concretos, por existir uma consciência pessoal depositada no mesmo. As imagens estão associadas a coordenadas mas pretendem distanciar-se delas, pois mais importante que aquilo que é descrito como concreto sobre um lugar é aquilo que se pode acrescentar ao mesmo. A mentira repetida tornar-se-á uma verdade relativa.
Um lugar nunca é algo apenas geograficamente definido pois advém das variadas relações entre os elementos que o definem. E se esses elementos se forem alterando, o lugar acompanhará essa mudança. No entanto, se apenas visitarmos o mesmo lugar uma vez na nossa vida, ele também se irá alterar, não em “si mesmo”, mas na nossa memória. Se os dados que fui dando como exactos estiverem errados, não importa.
O meu trabalho pouco tem a ver com espaço, pouco tem a ver com a natureza. Penso-o como um trabalho sobre pessoas e sobre a forma como vêem.
Esta exposição é uma história sobre todos, tentei. Uma História sobre ficarmos felizes só com um bocadinho, uma história sobre não nos perdermos com patamares, uma história comum, que deu trabalho e que não surgiu de um vazio.
Onde o que é o bom e o que é mau depende apenas do sentimento que nos acompanha na caminhada.”
texto: Daniela Nunes
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