BRISA – Ana Catarina Fragoso e Filipe Romão

BRISA – Ana Catarina Fragoso e Filipe Romão

BRISA – Ana Catarina Fragoso e Filipe Romão

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A Galeria Sete apresenta “BRISA”, exposição dos artistas Ana Catarina Fragoso e Filipe Romão, que terá início no dia 30 de setembro, sábado, das 17h às 20h, prolongando-se até 28 de outubro de 2023.

“O desenho, o quadro, a imagem não pertencem ao em si. Eles são o interior do exterior e o exterior do interior, que a duplicidade do  sentir torna possível,
e sem os quais jamais se compreenderá a quasi-presença e a visibilidade imanente que constituem todo o problema do imaginário.” 1

A exposição BRISA dá a ver o trabalho de Ana Catarina Fragoso (ACF) e Filipe Romão (FR).
Têm em comum, para lá do “género paisagem” que ambos praticam, similitudes no seu processo de trabalho,
indo à natureza, passeando-se por ela de forma organizada e sistemática, tirando fotografias que, contudo,
nunca usam como referente imediato da imagem que
  pintarão.

Como diz ACF: “a deslocação aos lugares foi preparada, demorada e foi fundamental para o
desenvolvimento destas pinturas. O contacto real, físico com esses lugares permitiu um conhecimento
táctil e em proximidade destas diferentes naturezas e, apesar dos trabalhos não serem pintados “en plein air”,
as visitas permitiram a construção de memórias, esboços e fotografias fundamentais para o desenvolvimento
posterior do trabalho em atelier, usando detalhes ou fragmentos da paisagem que depois amplio através da pintura.”

FR diz algo parecido: ”O processo de trabalho tem como base as memórias nas vivências dos lugares que
visito nas caminhadas feitas na natureza e a partir daí, recrio uma nova visão de uma natureza pura e
intocável, a imagem constrói uma poética do lugar, do natural, é como um poema.”.

Também acerca dos meios utilizados ambos os artistas têm similitudes; ACF usa o ferro, o cobre, o papel
como suporte tudo coisas vindas do interior da Terra, da natureza tal como FR que chega mesmo a afirmar:
  o carvão vegetal utilizado na realização dos desenhos é uma escolha deliberada pela humildade do
material e pela sua proveniência, que é a natureza, tal como o próprio papel. Um ideal ético e minimal,
não da representação mas de recursos.”.

Com Merleau-Ponty2 aprendemos que “a visão não aprende senão vendo, não aprende senão  consigo mesma.
O olho vê o mundo e aquilo que falta ao mundo para ser quadro e o que falta ao quadro para ser ele próprio.
Instrumento que se move a si mesmo, meio que inventa os seus fins, o olho é o que foi comovido por um certo impacto do mundo e o restitui ao visível através dos traços da mão”.

Se em ACF o que comoveu foi a sensação de proximidade e por isso, nas pinturas de maior dimensão ela
pinta sentada em cima do papel, sem distância, sem controle visual, aberta à surpresa, recreando a concreta
experiência sensorial e fluida que vivenciou quando visitou a natureza, em FR a comoção marcante transborda
em distância para poder ver, em organização do gesto da mão que imprime no papel lugares que não existem
em concreto, e por isso se tornam únicos numa catarse interior onde sobrevém uma “segunda natureza”,
uma visão a partir de dentro, um instante concebido paisagem.  Ambos os artistas foram de algum modo
trespassados pelo universo e rendem-se-lhe, num sentimento de proximidade
à origem. 

Para nós, visitantes da exposição BRISA, que nos possamos interrogar sobre a pertinência da poesia, da paisagem,
da natureza, parece oportuno recordar a ideia com que Merleau-Ponty encerra o seu livro “O olho e o espírito”3:
“se nenhuma pintura conclui a pintura, se mesmo nenhuma obra está absolutamente concluída, cada criação
muda, altera, esclarece, confirma, exalta, recria ou cria de antemão todas as outras. Se as criações não são algo
adquirido, não é apenas porque, como todas as coisas, passam, é também porque têm quase toda a vida à sua frente”.

1 – Maurice Merleau-Ponty,  “ O olho e o espirito”, 10ªedição, Ed. Veja-Passagens , pg 24
2 –ibidem, pg 25
3- Ibidem, pg 74

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