Kristina Girke – O Rei da bruma/The King of the mist

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Kristina Girke – O Rei da bruma/The King of the mist

A Galeria Sete apresenta a exposição “O Rei da bruma”, a primeira individual em Portugal da artista alemã Kristina Girke (República Democrática da Alemanha, 1968), que inaugurará sábado, dia 13 de setembro, das 17h às 21h, e estará patente até ao dia 11 de outubro de 2025. A entrada é livre e todos serão bem-vindos!

Girke estudou medicina em Berlim, antes de aí estudar Belas Artes. Expôs individualmente pela primeira vez na Bolívia e depois, na Alemanha, na Coreia do Sul, na Áustria, na Suíça e no Canadá.
Acerca do titulo da exposição, pedido de empréstimo a uma das sua obras mais recentes, diz a artista:
“Acho que o subconsciente precisa de algo tangível. Um rei é algo de que todos têm uma ideia concreta. Talvez uma ideia vinda do mundo infantil, cada um o imagina de forma diferente…?! Mas há uma imagem que se pode associar.
Para mim, o Rei significa contos de fadas, pepitas de ouro, majestade, exuberância, abundância e poder. Algo real que se associa a cores profundas e fortes, como vermelho escuro, dourado, azul escuro aveludado… Criámos um rei na nossa imaginação quando éramos crianças e nos liam contos de fadas. Assim, o rei conduz-nos associativamente a um mundo de contos de fadas cheio de magia e misticismo. A qualquer momento pode acontecer algo diferente, alguém pode ser encantado ou morrer repentinamente, mas ainda assim… talvez não esteja morto…!?
Como o título se refere diretamente a uma pintura (a imagem do Elefante), pode-se projetar a bruma diretamente sobre ela e relacioná-la apenas indiretamente com as outras pinturas da exposição.”
São também ideias recorrentes em textos escritos pelos mais variados autores, que acompanharam exposições suas e fazem boas análises do seu trabalho. Não muito conhecida da generalidade do público português, está já representada em algumas importantes coleções que adquiriram o seu trabalho em feiras internacionais.

Iremos auxiliar-nos dessas análises para um primeiro resumo de introdução da sua obra e da exposição de pintura que temos a honra de apresentar: *

  1. Tradicionalmente, o uso da citação sempre foi um processo recetivo e criativo. A artista combina inspirações retiradas da história da arte clássica com estratégias contemporâneas de pintura e composição para alcançar o seu próprio estilo.
  2. Já pintadas, as telas são sujeitas a processos violentos de remoção de partes da superfície, lavadas pela chuva, a pintura é amachucada e enrugada e, tal como faria um arqueólogo, são cuidadosamente revelados períodos de tempo vivenciados e esquecidos. Depois continuadas a pintar, tornando ainda mais evidente o palimpsesto de camadas, de tempo, sem esconder o processo mas garantindo tecnicamente a durabilidade e resistência da obra final. A camada final pode bem ser vibrante de côr e brilho, fluindo pelo presente.
  3. Diz a artista:” a nossa cultura ocidental – a das nações industrializadas – parece-me frágil e cheia de fissuras. Abaixo da fachada de alto brilho da cultura proeminente com a qual as sociedades se querem apresentar, as coisas estão a desintegrar-se e coisas substanciais emergem. As imagens arquetípicas, o padrão fundamental, estão na base e irrompem nas mais variadas formas e aparências, perpetuamente e de novo. Tudo o que acontece nas imagens é parte da totalidade possível ”
  4. Os motivos deixaram de ser de suma importância e tornaram-se atemporais e sem lugar, inseridos num plano indeterminável de ocorrências. Pinta por camadas de diferentes motivos, umas sobre as outras, com recurso frequente a tintas diferentes, com elementos abstratos, figurativos, ornamentais, colocados em cenários que cercam as cenas, com sugestão de estarem espacialmente ordenados e onde, diferentes níveis de intensidade, entre o leve e o denso, coexistem na mesma obra e contribuem para uma ideia de profundidade, sem recurso à perspetiva clássica. Contudo, por vezes, as imagens criadas parecem poder entrar em contos de fadas.
  5. O ornamento é muito presente mas está liberto do papel de apenas preencher espaços vazios e tem um papel funcionalmente independente, contrastando mais do que complementando, os elementos figurativos e abstratos. Ele destaca-se e encontra-se ao nível dos outros elementos da composição.
    Os elementos ornamentais veem a sua habitual regularidade e ritmo das sequências destruídos e é-lhe negada a decoratividade pois a autora cria desarmonias implacáveis em vez da harmonia e ordem que se espera numa decoração ornamental.
  6. Todo um processo de trabalho é incerto e leva tempo sendo que num mundo onde as imagens já têm tantas dificuldades, em que quase se extinguem por excesso de êxito, de proliferação, olhar leva tempo e pensar leva tempo. Como dizia Wittgenstein: ”Onde os outros continuam, eu paro”. Na obra de Girke, também há um mundo atrás do mundo, para os que param.
  7. Nesta pintura há também eco de outra afirmação de Wittgenstein: “Sentimos que, mesmo que todas as questões científicas possíveis sejam respondidas, os problemas da nossa vida ainda não foram abordados”.
  8. Na maioria das vezes consideramos a nossa ideia de verdade como “A verdade”. E gostamos de pensar nisso como algo bem ordenado e harmonioso como círculos concêntricos de cores ordenadas. Todavia, como dizem os profetas, cujas figuras Girke tanto utiliza: “A verdade não vem de mim”.
  9. Esta pintura dificilmente pode ser domada; mesmo nos seus formatos já grandes é expansiva e as formas abstratas ou figurativas que se misturam ou se sobrepõe em camadas ainda parecem filosóficas, metafísicas, cheias de riqueza sugestiva e com alto risco de vício.
  10. Para Girke, produzir arte significa “reconfigurar e fazer ajustes aos discursos contemporâneos”.

 

* – os autores destes textos, a quem agradecemos e cujas observações reproduzimos ou reinterpretamos, são Jürgen Schilling (2009), Christoph Tannert (2011), Pascal W.M. Rehahn(2013), Maik Schlüter (2014), Silke Opitz (2015), : Michael W. Schmalfuß(2019)

 

SOBRE:

Kristina Girke

1968 born in Halle, East Germany
1987 – 1994 Studies Medicine in Halle and Berlin
1994 – 2002 Studies Fine Arts / Painting at Art Academy Berlin-Weißensee with Katharina Grosse, Diploma and Honor as Master
2002 – 2004 Studies Art in Context, University of Arts Berlin, Master of Arts

Lives and workes in Portugal and Canada.

AWARDS, FELLOWSHIPS, LECTURESHIPS

1994 – 2004 Scholarship of the public Foundation Villigst e.V.
1997 – 1998 One year Artist Fellowship for South America for La Paz / Bolivia
2001 Nomination for the 15. Bundeskunstwettbewerb, Art and Exhibition Hall of Germany, Bonn, Germany
2005 – 2006 Lectureship for Painting at Art Academy (KHB) Berlin-Weißensee, Germany
2014 Lectureship for Painting at Art Academy Salzburg / Austria
2016 Artist Lecturer at Painting Dept., NSCAD University Halifax / Canada

SOLO EXHIBITIONS (SELECTION)

2020 Transitions, Gallery THEARTH, Bowen Island, BC / Canada
2018/ 19 Palimpsest (exhibition & Performance), Philipps-University of Marburg | Palimpsest, Gallery Schmalfuss, Marburg-Berlin/ Germany
2017 Anderwelten, Galerie Rother-Winter, Wiesbaden/ Germany
2016 Heroen von Utopia, Matthäikirche am Potsdamer Platz, Foundation St. Matthäus Berlin / Germany| Geometrie des Unmöglichen, Kunstverein Trier Junge Kunst, Trier / Germany
2015 Ich bin. Also male ich. 37th Cabinet Exhibition at Bishop Center, Berli, Stiftung St. Matthäus Berlin / Germany
2014 TAXUS ROSEN – eine malerische Setzung, Foundation Kloster Ilsenburg, Ilsenburg / Germany
2013 Sacred Destinations, Kunstverein Salzgitter, Museum Schloss Salder, Salzgitter / Germany
2012 Geometrie des Himmels, Gallery Wild Zürich / Switzerland
2011 Beim Frühstück hat sich Gott verkrümelt, Michael Schultz Gallery Berlin / Seoul / Beijing, Berlin / Germany
2010 Running away from Paradise, Michael Schultz Gallery Seoul / Korea | Urknall, CAS – Contemporary Art Space, Salzburg / Austria
2009 Vorsicht Explosiv!, Galerie Schilling Contemporary, Stuttgart / Germany | Das siebente Ornament, Galerie Michael Schultz, Berlin / Germany
2007 Terpentine Turbulenzen, Galerie Schilling Contemporary, Stuttgart / Germany
2006 Kulturschäden, Galerie Michael Schultz, Berlin / Germany
2005 Der Irrgarten, Galerie Schilling Contemporary, Stuttgart / Germany
2004 Laut singen am Wasserfall, Galerie Michael Schultz, Berlin / Germany
2000 MountainToys, Städtische Galerie Marktschlößchen, Halle, (Saale) / Germany
1999 Fremd, Ethnological Museum, Berlin State Museums / Germany
1998 Galería Salár, Centro de Àrtes y Comunicación, La Paz / Bolivia | GOETHE-Institut La Paz / Bolivia

GROUP EXHIBITIONS (SELECTION)

2016 ProletariArt, CBU Art Gallery Sydney, Nova Scotia / Canada
2015 FULL HOUSE, Kunsthalle Erfurt at Molsdorf Palace, Erfurt / Germany | Sicher ist, dass nichts sicher ist, Kunstverein Soest / Germany
2014 drawn – gezeichnet – dessiné, Kunstverein Bodenburg, Germany
2013 Winterreise, Gallery Wild, Zürich / Switzerland
2012 Spring Group Show, Gallery Thomas Jaeckel, New York City / USA | White Box Arts and Humanity Award, White Box Gallery, NYC / USA
2011 Fragments of Indian Sum, Michael Schultz Gallery, Berlin / Germany | Kleine Welten, Contemporary Art Space Salzburg / Austria
2009 Selection of XV Biennial of Cerveira at LX Factory, Lisbon / Portugal | XV Internacional Biennial of Cerveira, Vila Nova de Cerveira / Portugal | Neo-Anachronism, Por Amor À Arte Galeria, Porto / Portugal
2008 Close-up, Por Amor À Arte Galeria, Porto / Portugal | Mountain View, Michael Schultz Gallery, Seoul / Korea
2007 Salzmond, Kunstraum Klosterkirche, Traunstein / Germany | Gallery Kampl, München / Germany
2006 Der blaue Engel, Gallery Bekker vom Rath, Frankfurt (Main) / Germany | RIO, Artnews Projects, Berlin / Germany
2005 Pintura y escultura de la colección Irene Cabez y Ignacio Munoz, | Fundación Antonio Pérez, Cuenca / Spain | back to the line, Kunsthalle Dresden, Vier gewinnt – Kunst aus Berlin, Gallery Peerlings, Krefeld / Germany
2004 Galerie Peter Tedden, Duesseldorf / Germany | Berlin Now, Gallery Jörg Hasenbach, Antwerpen / Belgium | Arena | Kunstverein Talstraße e. V., Halle (Saale) / Germany | Made in Germany, Galleria San Carlo, Milan / Italy | Der Mythos küsst den Alltag, Michael Schultz Gallery, Berlin / Germany | now…, Galerie Levy Hamburg, Galería Castellana, Madrid / Spain
2001 15. Bundeskunstwettbewerb, Art and Exhibition Hall of Germany, Bonn / Germany

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