João Vieira

SOBRE:

João  Vieira (Vidago, 4 de Outubro de 1934 – Lisboa, 5 de Setembro de 2009) foi um artista plástico e pintor português.

Biografia / Obra

Filho de dois professores primários, João Vieira nasce em Vidago, Trás-os-Montes, em 1934. Em 1951 ingressa na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, frequentando os dois primeiros anos do curso de pintura, que abandona, desiludido com o ensino aí praticado. Depois de um período de permanência na sua região natal, regressa a Lisboa “para desenvolver uma intensa e original actividade criativa”. Começa a expor em 1956, ano em que se liga ao Grupo do Café Gelo, quando partilhava um atelier por cima deste café localizado no Rossio. Um ano depois parte para Paris; frequenta a Academia la Grande Chaumière e associa-se a José Escada, René Bertholo, Gonçalo Duarte, Lourdes Castro, Christo e Jan Voss na fundação da revista e do grupo KWY.

Em 1959 realiza a sua primeira exposição individual (Galeria do Diário de Notícias) e nesse mesmo ano recebe uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian que o levará de regresso a Paris para trabalhar com Arpad Szenes. Mantém a colaboração com o grupo KWY participando na revista e nas exposições de Lisboa (1960), Saarbrücken (1060), Paris (1961) e Bolonha (1962). Em 1964 lecciona no Maidstone College of Art, Londres, contactando com o meio artístico britânico, regressando a Lisboa no início de 1967.

“A obra de João Vieira desenvolveu-se ao longo de mais de cinco décadas fundamentalmente sob o signo do experimentalismo interdisciplinar em torno de duas temáticas: o corpo e a letra. Do corpo, especialmente ligado aos primeiros trabalhos e aos actos performativos então realizados em Portugal como pioneira manifestação, João Vieira chega à letra, registando a partir da forma do corpo as possibilidades gráficas da sua transformação em letra”.

Baseada num poema de Gertrud Stein, a pintura Uma Rosa É, 1968, anuncia a transição da sua obra para as Letras-Objetos e para as performances. “Numa tela de fundo branco, que se assemelha a uma gigantesca folha de papel, grandes letras vermelhas, pretas, verdes e azuis dispõem-se autonomamente […]. Anulando qualquer caligrafia […], é o gesto criador de formas individuais que prevalece”.

“Este interesse pelos signos do alfabeto, tomados como elementos-base da sua criação, revela algumas influências, que passam da poesia experimental ao graffiti, ao cartazismo pop e às actividades dos letristas franceses dos anos 50” . Na sua obra prevalece, no entanto, uma liberdade que lhe permite ultrapassar todas estas influências e gerir “um percurso muito próprio, que vai além da pintura, expandindo-se pelos campos da escultura, do teatro, da performance e da cenografia”.

É a esta última que se dedica predominantemente a partir do regresso a Lisboa em 1967, quando realiza cenários para várias peças, nomeadamente para a RTP (1968-72). Esse interesse irá revelar-se de forma diversa após a sua primeira performance, realizada em 1970 na Galeria Judite Dacruz, e que abre caminho para as diversas exposições e performances que realiza ao longo dos anos de 1970 e 1980, em que “usa diversos materiais (plexiglass, poliuretanos, gesso, etc.) e em que apela ao lado festivo e celebrativo da arte e à participação directa do público”.

Entre os seus últimos trabalhos pode destacar-se Alfabeto Latino e Grego, 2000, composto por “dezoito elementos de plexiglás colorido e transparente que, depois de recortado e montado, expõe uma atmosfera quase psicadélica, onde a experiência visual das letras coloridas, na sua alusão ainda alfabética, parece sublinhar o sentido de prazer que desde sempre esteve associado à [sua] obra”.

João Vieira representou Portugal na 39.ª Bienal de Veneza, 1980; participou na grande retrospectiva do grupo KWY, Centro Cultural de Belém, 2001; e em 2009 foi galardoado postumamente com o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. É pai do cantor Manuel João Vieira.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

1959  Pintura, Galeria Diário de Notícias, Lisboa

1962 Pintura, Galeria Diário de Notícias, Lisboa

1964 Pintura, Galeria Diário de Notícias, Lisboa

1965 Pintura, Galeria Divulgação, Lisboa

1966 PinturaGaleria 111, Lisboa

1970 O Espírito da Letra, Galeria Judite Dacruz, Lisboa

1971 Expansões, Galeria Judite Dacruz, Lisboa

1972 Anagramas, Galeria Judite Dacruz, Lisboa

1974 Originais para as ilustrações de “Contos arcomidos”, Galeria Opinião, Lisboa

1981 Mamografias, Galeria Diferença, Lisboa; Alfabetos, Galeria Quadrum, Lisboa

1982 Mamografias, Galeria CAP, Coimbra

1984 Kodak, Galeria Altamira, Lisboa;  Caretos, Galeria Quadrum, Lisboa

1986 Metamorfoses, Galeria Wewerka, Hannover, Berlim;  Metamorfoses, Galeria Zen, Porto

1987 Guaches, Galeria Atelier 2, Lisboa

1988 As Imagens da Escrita, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa Máscaras, Centro Cultural S. Lourenço, Almansil;  Diálogos de Lisboa (Francisco de Hollanda), Galeria Barata, Lisboa

1990 Galeria Nasoni, Lisboa

1991 Escritas, Galeria Neupergama, Torres Novas

1993 Mácaras, Museu de Amarante; Silêncio Chinês, Edif Eduardo Martins, Lisboa.

1994 Silêncio Chinês, Galeria dos Escudeiros, Évora;  Ideogramas, Galeria Trema, Lisboa

1995 Efeitos de Espelho (à maneira de Grão-Vasco), Museu Grão-Vasco, Viseu

Efeitos de Espelho(à maneira de Grão-Vasco), Fundação Mapfre, Porto

1996 Exposição dos painéis de azulejos preparativos para os painéis do metropolitano de Budapeste, Galeria Ratton, Lisboa;  Inauguração do painel de azulejos na estação do metropolitano de Budapeste;  Bestiário, Galeria Fernando Santos, Lisboa/Porto (em simultâneo)

Um Almirante em Vez de Coração, Casa-Museu Fernando Pessoa, Lisboa (instalação multimédia)

EXPOSIÇÕES COLECTIVAS

1956:  I Exposição Artistas de Hoje, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa;  7 Junge Portuguiesische Kunstler, Kunstverein, Hannover

1957:  I Exposição de Artes Plásticas, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

1958: Onze Pintores Portugueses, Galeria Abril, Madrid

1960: Grupo KWY, Universidade de Saarbrucken; Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

1961: Grupo KWY, Galeria Le Soleil Dans la Tête, Paris;  II exposição de Artes Plásticas, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, FIL, Lisboa

1967:  Prémio Lissone, Milano;  Arte Portuguesa – Pintura e Escultura do Naturalismo aos Nossos Dias, Palais des Beaux Arts, Paris, Bruxelles

1968: Arte Portuguesa – Pintura e Escultura do Naturalismo aos Nossos Dias, Casón del Buen Retiro, Madrid;  Exposição GM 67, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa;  Exposição de Arte Moderna “Pintura e Escultura”, Museu José Malhoa, Caldas da Rainha

1969: Exposição Inaugural da Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa;  Colectiva, Galeria Judite Dacruz, Lisboa

1971:  Prémio SOQUIL-70, Galeria Bucholz, Lisboa;  Pintura Portuguesa, Instalações da TAP, Bruxelas

1972:  Colectiva, organizada pela Galeria Judite Dacruz, Cooperativa Árvore, Porto;  Expo AICA 72, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

1973:  26 Artistas de Hoje, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa;  Pintura Portuguesa de Hoy – Abstractos y Neofigurativos, Palacio de La Virreina, Barcelona

1974:  Expo AICA 74, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

1975:  I Bienal do Avante, Lisboa

1976:  Arte Portoghese Comtemporanea, Galeria Nazionale d’Arte Moderna, Roma;  Art Portugais Contemporain, Musée D’Art Moderne de la Ville de Paris, Paris;  Arte Portuguesa Contemporânea, Museu de Arte Moderna de Brasília, São Paulço e Rio de Janeiro, Brasil

1977: Alternativa Zero, Galeria Nacional de Arte Moderna, Lisboa;  Cultura Portuguesa em Madrid, Palacio de Congressos, Madrid

1979:  SACOM 2, Museo Vostell, Malpartida de Cáceres;  Arte Moderna Portuguesa, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa;  Festa de la Letra, Galeria Ciento, Eude, Joan Prats, Sala Gaspar e BCD, Barcelona

1980:  SACOM 3, Museo Vostell, Malpartida de Cáceres;  Bienal de Veneza (representação nacional), Veneza;  Exposição CNARP, Lisboa

1981:  Exposição de Arte, Reitoria da Universidade Clássica, Lisboa

1982:  Desenhos? Projecto Sema, Edifício Mobil, Lisboa

1983:  Exposição de Artes Plásticas – Jornada de Divulgação da Arte em Portugal, Casa do Alentejo, Lisboa

1984:  20th Asia Modern Art Exhibition Special Review, Tokio-to Bijutsukan e Ueno-no-Mori Bijutsukan, Tokyo

1986:  AICA, Gulbenkian

1987:  Arte Portuguesa 70-80, Exposição Itinerante

1990:  Surrealismo e Não-Só, Galeria Neupergama, Torres Novas

1991:  Três Artistas Portugueses em Macau, Casa Garden, Macau

1993:  Biombos dos Portugueses, Tokyo, São Paulo

1994:  Biombos dos Portugueses, Lisboa, Porto, Toronto, Cabo Verde;  Anos 60, Palácio Galveias, Lisboa;  Exposição Itinerante de Artes Plásticas, Festa do Avante, Lisboa; Fête de L’Humanité, Paris

1995:  Colecção de Mário Soares, Museu do Chiado, Lisboa.

ACÇÕES-ESPECTÁCULO/ PERFORMANCES

1970  O Espírito da Letra, Galeria Judite Dacruz, Lisboa

1971  O Espírito da Letra, Galeria Bucholz, Lisboa

Expansões, Galeria Judite Dacruz, Lisboa (com a participação de modelos profissionais)

1972  Incorpóreo I, Expo AICA-72, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

(com a participação de Maria)

1973  Pele Integral, Expo AICA-73, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

1978  Incorpóreo II, Museo Vostell, Malpartida de Cáceres

1980  Expansões, Galeria Nacional de Arte Moderna, Lisboa (com a participação de elementos do grupo de teatro “A Barraca” e dos músicos Maria João Serrão e Oliveira e Silva)

1981  Mamografias, Galeria Diferença, Lisboa (com a participação de Maria, Manu e Mandinga)

1984 Caretos, Galeria Quadrum, Lisboa (com a participação de Janita Salomé)

FILMOGRAFIA

1971 Expansões, 16mm, cor, aprox. 10 minutos. Galeria Judite Dacruz, Lisboa (realização de Manuel Pires)

1972  Incorpóreo I, 16mm, cor, aprox. 10 minutos. Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa (realização de Manuel Pires)

VIDEOGRAFIA

1977  Mamografias, (projecto-instalação-vídeo), circuito interno, preto e branco, tempo de duração ininterrupto ao longo da exposição Alternativa Zero, Galeria Nacional de Arte Moderna, Lisboa

1979 Concerto Fluxus com Juan Hidalgo, Wolff Vostell e Joana Rosa, preto e branco, Sony V-60H, aprox. 20 minutos

1980   Expansões, (Video-performance), U-Matic, cor, aprox. 25 minutos, Galeria Nacional de Arte Moderna, Lisboa (ardeu no incêndio da Galeria, existe uma cópia resumo de 5 minutos)

1981  Mamografias, (video-performance), U-Matic, cor, aprox. 20 minutos, Galeria Diferença, Lisboa (realização de Manuel Pires)

1982  Festa dos Caretos em Torre D. Chama, (recolha etnográfica), U-Matic, cor, Torre D. Chama (realização Manuel Pires)

1984  Caretos, (Video-performance), U-Matic, cor, 25 minutos, Galeria Quadrum, Li sboa (realização de Cerveira Pinto)

TEATRO

CENOGRAFIA

1967 D. Quixote, de Y. Jamiaque, encenado por Carlos Avillez. Teatro Experimental de Cascais.

1968 O Porteiro, de Harold Pinter, encenado por Jorge Listopad. Teatro do Nosso Tempo, Lisboa.

1969 À Espera de Godot, de Samuel Beckett, encenado por Jacinto Ramos. Banco de Angola, Lisboa;   A Ilha dos Escravos, de Marivaux, encenado por Luis Lima. Teatro Experimental Universitário de Coimbra;   Ida e Volta, de Hindemith, XIII Festival Gulbenkian de Música, Lisboa;  O Capote, de Chailly, XIII Festival Gulbenkian de Música, Lisboa

1976 O Círculo de Giz Caucasiano, de Brecht, encenado por João Lourenço. Nacional 2, Lisboa

1977 1383, de Virgílio Martinho, encenado por Joaquim Benite. Grupo de Teatro de Campolide, Lisboa

1981 Baal, de Brecht, encenado por João Lourenço. Nacional 2, Lisboa

1984 Traições, de Harold Pinter, encenado por João Vieira. Teatro de Actor, Lisboa

1994 Molière, de Bulgakov, encenado por Joaquim Benite. Companhia de Teatro de Almada

ENCENAÇÃO

1976 Quem Tem Medo de Virgínia Wolff? de Edward Albee. Companhia Vasco Morgado, Lisboa

1984 Traições, de Harold Pinter. Teatro de Actor, Lisboa;  Paisagem, de Harold Pinter. RTP, Lisboa

PRÉMIOS

1968 Prémio do Ciclo de Teatro Latino, Barcelona, pela cenografia de D. Quixote

1971 Prémio Nacional de Teatro, pela encenação de Quem Tem Medo de Virgínia Wolff?

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