Álvaro Lapa

SOBRE:
Nasceu em Évora em 1939.
Estudou filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e assumiu desde sempre, no campo das artes plásticas, uma atitude isolada e autodidata.
Tem vários livros escritos: Raso como o chão, Porque morreu Eanes e Barulheira.
Está representado em coleções do Estado, Museu Nacional Soares dos Reis e Fundação Calouste Gulbenkian.
Desde a primeira exposição individual na Galeria 111 em Lisboa, em 1964, a obra de Lapa tem vindo a realizar uma espécie de gestão enigmática das formas,
a partir de um oblíquo sistemas de signos, recusando qualquer equilíbrio ou habilidade estética. Este sistema funciona sobretudo como um personalizado
e polémico código de escrita, obrigando-nos a ponderar o fascínio das formas dissemelhantes e contíguas, onde o informe, à maneira de Artaud e Bataille,
alude a eventuais filiações na pintura abstrato-expressionista tanto europeia como norte-americana – sobretudo Robert Motherwell – e no surrealismo europeu,
nomeadamente na tensão narrativa que a desconstrução formal deixa em aberto.
A autonomia dos valores plásticos desta pintura é contrabalançada com a marca indelével da referência autobiográfica a leituras e influências literárias
que conduziram, por exemplo, à notável série dos “cadernos”, reportados a um conjunto de escritores que constituem, por assim dizer, a biblioteca
subversiva de Álvaro Lapa: Rimbaud, Kafka, Henry Miller, James Joyce, William Burroughs, Sade, Michaux, entre outros. Aliás, a técnica do “cut-up”
cara aos escritores da “Beat Generation” terá nesta pintura uma influência fecunda no modo como fragmenta ou inviabiliza qualquer possibilidade de
leitura semiótica definitiva ou mesmo estabilizada.
A recusa das evidências e das convenções de legibilidade não é um exercício teórico de análise conceptual, mas antes a demanda de uma espécie de
autenticidade interior que pudesse formar um idioma próprio, marcado pelo ritmo íntimo.
Neste sentido, a pintura de Álvaro Lapa pode ser situada, exteriormente, no quadro histórico de uma avaliação subversiva da tradição da pintura,
cúmplice das escritas clandestinas, ou intimamente, como diário de um universo preso à verdadeira idiossincrasia de um universo pessoal.
Álvaro Lapa faleceu em Fevereiro de 2006. Deixou a obra de um homem livre e criativo, filósofo de formação e artista autodidata, que dedicou a sua
vida à Pintura e à Arte, duas atividades indissociáveis e complementares na sua obra.
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